Será que estou atrasada? Reflexões sobre a vida não linear e crise da vida adulta.

Às vezes eu penso que a vida adulta veio com um manual invisível.

Um manual que dizia que o caminho era linear: a gente cresce, estuda, arruma um trabalho fixo, casa, compra a casa própria, tem filhos… e assim por diante. Um roteiro pronto que parecia ser o único caminho possível.

Crescemos acreditando nisso. E, por muito tempo, acreditei também. Afinal, era o que todo mundo repetia: que sucesso era sinônimo de estabilidade, que “ter carteira assinada” significava estar no caminho certo e que até os 30 anos a gente já precisava ter conquistado essa segurança que parecia ser o ápice da vida adulta.

Mas então eu cresci. E percebi que a vida não segue manuais.

Eu tenho 26 anos e escolhi não seguir a rota que esperavam de mim. Não tenho carteira assinada, não tenho a tal da estabilidade que tanto falam, e não tenho uma certeza fixa sobre “o que eu quero ser para sempre”. O que eu tenho é curiosidade. Tenho fases. Tem época que quero me dedicar ao design, outra que me vejo como fotógrafa, e talvez amanhã eu descubra outra paixão que vai me mover por um tempo.

E sabe… por muito tempo isso me fez pensar: será que eu estou errada? Será que vou fracassar?

Esse medo não nasce do que eu realmente quero. Ele vem da criação que me dizia que a vida precisava ser reta, previsível e segura. Ele vem da comparação silenciosa com colegas que parecem estar “dentro do prazo”, com casa própria, carro, um plano de carreira sólido e, às vezes, até família formada.

Mas eu não sou linear. Nunca fui.

Eu sou feita de desvios, curvas, recomeços, e talvez seja justamente aí que mora a beleza: na coragem de experimentar.

Eu já entendi que a inconstância não é defeito, é característica. É movimento. E movimento também é vida. Porque viver de forma múltipla, sem um destino único, é se permitir aprender mais de uma coisa, se transformar mais de uma vez, descobrir que existem muitos caminhos e que todos eles podem ser válidos.

Talvez o maior erro seja acreditar que existe apenas uma maneira de “dar certo”. Que sucesso só pode ter um molde, uma receita universal. Quando, na verdade, sucesso pode ser acordar com leveza, pode ser se sentir inteira no que faz, pode ser mudar de rota e ainda assim não perder a si mesma.

E eu penso que não estou sozinha nisso. Quantas pessoas hoje não carregam esse mesmo questionamento? Quantas pessoas não estão nessa crise da vida adulta? Quantas não se sentem pressionadas por um roteiro que já não faz sentido, mas ainda assim não conseguem se livrar da cobrança interna de estarem atrasadas?

Se você também sente isso, talvez seja hora de ressignificar. Não existe atraso quando a vida é múltipla. Não existe fracasso quando se está tentando ser fiel a si mesma. A vida adulta não precisa ser uma linha reta: ela pode ser um mosaico, feito de colagens, de pedaços que se encontram, de fases que se contradizem e ainda assim fazem sentido.

E, no fim das contas, talvez viver não seja sobre ter todas as respostas, mas sim sobre aprender a caminhar carregando perguntas. Sobre aceitar que a gente pode se reinventar quantas vezes forem necessárias.

A vida adulta é crise, sim. Mas também é liberdade. É se dar conta de que ninguém está realmente no controle absoluto e que isso é assustador, mas também é bonito. Porque significa que existe espaço para criar, errar, recomeçar.

E talvez, só talvez, esse seja o verdadeiro manual invisível da vida: não seguir um roteiro pronto, mas ousar escrever o nosso próprio.


Instagram: @dizaibiah

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Oie, meu nome é Ana Beatriz, tenho 26 anos e criei esse blog para compartilhar os pedaços que me moldam em universos inteiros. Este espaço não é um manual nem um palco. É mais como um caderno aberto, com rabiscos, pensamentos, e um pouco de poesia entre uma linha e outra.

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